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Cronicas-->VÁ SER PÃO DURO ASSIM NO...NA... -- 08/04/2000 - 20:26 (Mario Galvão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

VÁ SER PÃO DURO ASSIM NO...NA...

Junho de 1963.
Já era quase o dia seguinte quando o último oitavo de pizza daquela noite chegou ao final, na padaria A Mundial de Guará. E com ele, a derradeira Brahma.
Ao mesmo tempo, nós três, acadêmicos de Direito, como costumava acontecer, já havíamos solucionado pelo menos uma meia dúzia dos mais graves problemas nacionais, afora alguns internacionais.
Para salvadores do País e do mundo, faltava-nos muito pouco.
Que ninguém se impressione, porque somados os anos das idades de nós três ali reunidos, não se obtinha um número maior do que 55.
Saímos para a praça fria, onde uma neblina enjoada quase escondia a estátua do Conselheiro Rodrigues Alves, com pouca vontade de voltar para casa e nenhuma de dormir.
Como de costume, ao deixarmos o centro, descemos a pé a Rua São Francisco, caminho comum de todos três e onde morava o Ganso Roco, que às vezes, muito raramente, também era lembrado por seu verdadeiro nome, Paulo Roberto Barbosa de Almeida. Estávamos em Guaratinguetá, terra onde até animal de estimação tem nome e apelido.
O portão grande, de ferro, da casa do Ganso Roco era, tradicionalmente, o nosso ponto de parada, para o último e derradeiro papo da noite, antes de seguirmos para nossa casa.
O vizinho do Ganso era um velho gerente de banco, figura conhecidíssima na cidade pelo seu extremado e confesso pãodurismo.
Aquele personagem da literatura inglesa, o avarento Scrooge, que roía as próprias unhas para matar a fome, era fichinha, comparado com o nosso amigo, o "Seu" Amàncio.
Pródigo nos empréstimos com o dinheiro do Banco em que trabalhava, mão aberta na mesa da gerência, era o inverso em sua vida particular.
Mendigo poderia esmurrar até o sangue brotar dos nós dos dedos a sua porta do sobrado, que jamais "Seu" Amàncio apareceria. O homem advinhava se alguém ia lhe pedir algum.
Enquanto entabolávamos a nossa conversa, combinando a missa das dez na matriz, o cinema e as paqueras no domingo, dia seguinte, percebemos luz acesa numa das janelas superiores do sobrado.
Estranhamos que, enquanto conversávamos, a luz permanecia um bom tempo acesa e, repentinamente, se apagava. Instantes depois, voltava a acender-se. Permanecia mais alguns minutos acesa, apagava por um momento, e tornava a acender de novo.
Observávamos intrigados o fato e ele repetiu-se por tantas vezes que que não suportamos mais a curiosidade.
Como o "Seu" Amàncio era muito simpático e afável, apesar de pão duro, de não abrir a mão nem para dar bom dia, resolvemos procurar saber o que estava acontecendo e tóc, tóc, tóc, batemos à porta.
A luz apagou-se de vez.
Demorou um pouquinho para o velho descer as escadas de madeira, que davam acesso ao piso térreo do sobrado, à sala de visitas e à porta que Ganso Roco batera com força.
Eu, Zé d´Oróra (filho da Dona Aurora) e o Ganso já estávamos até um pouco arrependidos da ousadia criada pela curiosidade de jovens, quando a peça de madeira de lei gemeu, a chave girou e o o velho gerente de banco colocou o nariz adunco na fresta da porta, a sala escura, meio que envergonhado de aparecer de pijama, chinelo e touca. Mas, estava calmo:
--Qui é que os meninos estão querendo? A esta hora? - a voz dele era pausada e calma.
Explicamos o motivo que nos aguçara a curiosidade, a luz que, intermitantemente, apagava e acendia, acendia e apagava, a intervalos regulares, por um bom tempo.
O velho Amàncio Antunes deu uma gorda risada e não se fez de rogado em explicar:
--Ora meninos, vocês ficaram intrigados atoa. Eu estou...estava lendo uma revista. Prá que que eu ia deixar a luz acesa quando virava as páginas?!?!

(publicado originalmente no jornal O VALEPARAIBANO em 01.12.81)

Mário Galvão é jornalista e profissional de RP
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